sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Interferência humana


A Antártica é um continente com quase 14 milhões de km², recoberto por gelo em 99,5% de sua área, com espessura que chega a atingir quase 5000 metros. O volume de gelo é de 25 milhões de quilômetros cúbicos, o que o torna a maior fonte de água potável e um dos maiores dissipadores de calor do Planeta.

A influência do homem nos processos de alteração do clima da região e do mundo divide os cientistas. Quanto ao impacto ambiental decorrente da presença humana no continente, acordos internacionais garantem uma satisfatória segurança. As missões instaladas na Antártica se caracterizam pelo baixo impacto ambiental. O esgoto e o lixo são tratados e levados de volta para os continentes de origem, enquanto a matéria orgânica é queimada.

Entretanto, os efeitos da ação do homem sobre o continente e os reflexos para o clima no Globo ainda geram muitas dúvidas. O professor Carlos Alberto Garcia, físico e pesquisador da Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURGS), dedica-se à oceanografia de altas latitudes, como a dos pólos. Para ele, antes de qualquer tentativa de estudo sobre a interferência humana no meio ambiente, é necessário conhecer a ‘variabilidade natural’ dos ecossistemas. “Para entendermos as mudanças no meio ambiente, antes de tudo precisamos entender o próprio meio ambiente”, afirma.

Atualmente ele investiga a possibilidade das águas profundas antárticas passarem por um processo de aquecimento. “Com esse panorama de aquecimento global, verificamos, especialmente nessas regiões, uma tendência dessas águas de fundo apresentarem um aquecimento médio. Alguns pesquisadores já chegaram a análises que apontam para isso”. Segundo ele, se for verificada essa tendência no processo de formação das águas profundas, a reversão do quadro é ainda mais complicada do que a reversão de processos atmosféricos, pois os processos marítimos, em comparação com os climáticos, são mais lentos tanto para ocorrerem como para ser corrigidos.

O trabalho do professor Jefferson Simões também aponta para uma expressiva influência do homem na região antártica e no clima global. No final de 2004, ele foi o primeiro brasileiro a atravessar, por via terrestre, o continente e chegar ao Pólo Sul Geográfico, um dos pontos mais remotos do Planeta. Durante o trajeto, Simões coletou amostras de gelo antártico a cada dois graus de latitude (220 km de distância), em profundidades que chegavam a 50 metros. A análise do material irá permitir estudar variações em parâmetros ambientais como temperatura, vestígios de explosões vulcânicas, processos de desertificação global, padrões de circulação da atmosfera e dos oceanos e transporte de poluentes para a Antártica, por exemplo.

O cruzamento desses dados com os coletados por cerca de 20 outras equipes internacionais indicam fatos surpreendentes. A análise de camadas de gelo antártico - algumas retiradas há mais de 3,5 mil metros de profundidade - aponta, por exemplo, que, desde a Revolução Industrial, há 200 anos, as concentrações de gás carbônico e metano na atmosfera aumentaram, respectivamente, 36% e 130%. Segundo os especialistas, esses resultados mostram que a concentração de gases causadores do efeito estufa na atmosfera nunca foi tão alta ao longo dos últimos 420 mil anos, evidenciando, assim, a origem artificial desses gases.

Nota da Redação

O primeiro brasileiro a pisar o Pólo Sul foi o professor Rubens Junqueira Vilella, em 17 de novembro de 1961. Na verdade a reportagem cita uma travessia a pé em direção ao pólo sul geográfico e neste caso, confirmamos também que Júlio Fiadi, já esteve lá em 2001.

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